NO-UNE Congresso da UNE deixa claro que a histórica entidade de luta dos estudantes está definitivamente nas mãos do governo e não pretende voltar para o nosso lado.

Por Fernanda Silva
A 50ª edição do CONUNE (Congresso da Une) aconteceu entre os dias 4 e 8 de julho em Brasília e trouxe poucas novidades sobre essa entidade. As resoluções desse congresso não poderiam ser mais coerentes com a postura que a União Nacional dos Estudantes vem tomando desde que assumiu seu apoio ao governo federal.A UNE bem que tentou passar uma imagem de entidade combativa e disposta à radicalização. No dia 6, promoveu uma passeata por mudanças na política econômica do país; “Estamos prontos para ir às últimas conseqüências pela retirada de Henrique Meirelles do Banco Central”, avisava Lúcia Stumpf, até então diretora de Relações Internacionais e hoje atual presidente da UNE.A passeata, cujo lema era "Brasil - Verás que um filho teu não foge à luta - Romper as amarras do desenvolvimento, por mudanças na política econômica!" não só omitia os questionamentos ao governo Lula sobre sua política econômica, focando-se exclusivamente na oposição ao presidente do banco central, como estava carregada de apoio ao PAC (programa de aceleração do crescimento). E para discutir esse programa, a UNE convidou para a mesa “O PAC e o desenvolvimento” ninguém menos que Artur Henrique, atual presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), entidade que assim como a UNE passou de combativa para governista e hoje auxilia o governo Lula a implementar seus ataques à classe trabalhadora. Disso tudo não podia sair senão o apoio da UNE ao PAC, programa que é um golpe ao conjunto de conquista dos trabalhadores, que avança nas privatizações, restringe o aumento salarial para servidores nos próximos 10 anos e começa a implementar a reforma da previdência.Outra mesa de destaque foi a “Mudanças na universidade pública”, que contou com a presença de Naomar Almeida, reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e elaborador do projeto Universidade Nova, precursor do REUNI de Lula. O nível de sucateamento proposto pelo REUNI é tão elevado que a UNE não foi capaz de aprovar no seu congresso um apoio explícito a mais esse ataque de Lula, porém, para contornar essa situação, omitindo o apoio ao Universidade Nova, aprovou a luta por uma Nova Universidade.Como já era de se esperar, as discussões sobre educação giraram em torno do apoio à reforma universitária e a necessidade do movimento estudantil pressionar o governo para que essa reforma saia. Como se esse ponto fosse consenso entre os estudantes, a direção da UNE fazia questão de ressaltar grande a diversidade política dentro do congresso, exaltando a unidade dos estudantes em torno desse projeto de educação. "Nos outros 49 Congressos, nunca foi possível unificar tanta gente e tantos campos políticos na defesa da UNE, da universidade pública e da soberania nacional", afirmava a ex-Vice-presidente da UNE, Louise Caroline.No âmbito internacional, a UNE colocou na pauta a questão da América latina, mas fugiu do debate sobre a ocupação das tropas brasileiras no Haiti, provando que até as mais opressoras e cruéis políticas do governo federal são apoiadas pela entidade.Além deixar claro ao conjunto dos estudantes que a UNE não é mais uma arma efetiva de organização e luta, o CONUNE também mostrou que essa entidade em nada reflete a realidade do movimento estudantil. Nenhum delegado foi eleito na USP, universidade que durante o primeiro semestre foi o centro das mobilizações além de ter impulsionado processos de mobilização em todo o país.Está colocada para o movimento estudantil a necessidade de organizar as lutas por fora da União Nacional dos Estudantes. Nesse marco, é visível importância da CONLUTE impulsionar iniciativas como a Frente de Luta contra a Reforma Universitária, que aglutina diversos setores do M.E., na perspectiva de construção de uma nova e ampla entidade, independente do governo, democrática e combativa.